sábado, 17 de julho de 2010

Vi uma lua no céu, vi outra lua no mar

Na mitologia grega, Ártemis era a deusa não só da caça como também da Lua. Enquanto isso os sete mares eram governados pelo deus Poseidon. Não são abundantes lendas que envolvam diretamente estes dois deuses, assim como na Antiguidade uma ideia que relacionava os mares e a Lua não foi levada muito a sério. Alguns séculos depois, essa ideia foi melhor e explorada e se revelou um curioso fenômeno físico. Refiro-me às marés. Desde tempos remotos, observou-se que o nível das águas do mar no litoral variava durante o dia, apresentando um nível máximo (maré alta) e o um nível mínimo (maré baixa). Na verdade, isto também pode ser observado nos rios, ou sobre todas as massas líquidas de extensão relevante sobre a superfície do planeta. A cada dia esta variação ocorre duas vezes: uma maré baixa alterna-se com uma alta num período aproximado de seis horas.Alguns observadores da natureza perceberam que durante uma das marés altas do dia a Lua estava alta no céu (quando ela estava visível, é claro) e concluíram que ela era responsável pelo fenômeno. Parecendo absurda, foi esta a ideia a ser explorada na era moderna pela teoria da gravitação. O fato é que as marés são causadas por influências gravitacionais de outros corpos sobre a Terra, tendo a Lua maior peso neste fenômeno, mais até que o Sol. Vamos entender o porquê. O que acontece basicamente é que a força gravitacional exercida sobre determinado corpo depende de sua distância. E o diâmetro da Terra é suficientemente grande em relação à sua distância da Lua para que o efeito gravitacional seja mais forte nos pontos mais próximos ao satélite do que nos mais distantes. Enquanto que para o Sol essa diferença é menor, já que ele está muito distante, mesmo tendo uma massa bem maior que a terrestre e a lunar.

Pois é, essa diferença gravitacional não vai ter tanto efeito na parte sólida do planeta: ela irá se comportar como se toda a força fosse exercida em seu centro. Mas isso não acontece na parte líquida: as águas que estiverem voltadas para a lua serão mais atraídas que esta parte sólida, aumentando o seu nível, resultando em maré alta. As águas da face oposta do planeta acabarão "ficando por inércia", por serem menos atraídas que o restante do planeta, resultando em maré alta também. As regiões intermediárias (que formam ângulos de 90° com a Lua), ficarão então com um nível menor, resultando na maré baixa. Dessa forma, a cada movimento de rotação da Terra, teremos, em um local do planeta, duas marés altas alternadas com duas baixas.
As fases da Lua também influenciam neste efeito. Primeiramente pelo fato de o movimento lunar gerar a cada dia um atraso no "horário das marés". E também por causa do efeito gravitacional solar. Quando a Lua está alinhada com o Sol (fases Nova e Cheia), a diferença entre marés altas e baixas é máxima, devido aos dois astros "somarem" seus efeitos. Quando ela está em quadratura com o Sol (Quartos Crescente e Minguante), este passa a agir nas regiões onde a maré é baixa, de forma que a diferença entre as marés é mínima.

Não se pode esquecer também, da variação anual das marés. Quando a Terra está mais próxima do Sol, o efeito deste nas marés é intensificado, de forma que a influência das fases da Lua passa a ser maior. Assim, numa determinada época do ano e fase da Lua, teremos as marés mais altas possíveis.

É isso, tava adiando há muito tempo esses meus dois posts de astronomia, explicando as estações e as marés, espero que os leitores gostem e entendam as referências mitológicas dos títulos. Ψ